Decapagem e zincagem

Hoje trago-vos a minha experiência com a decapagem e zincagem da RT.

Apesar dos pontos menos positivos, continuo a considerar este processo essencial em qualquer restauro.

Enquanto continuo a desmontar a 4Latinhas até ao mais pequeno parafuso, percebo desde muito cedo que este é daquele tipo de carros em que o chassis é independente da carroceria, ou seja, existem duas partes completamente independentes que podem ser trabalhadas isoladamente.

Com algumas horas de trabalho a tentar perceber como removia a tinta, quer do chassis, quer da carroceria, percebi que o chassis, por ser uma chapa bastante mais grossa, era bastanta mais fácil de executar, por me permitir errar mais vezes, sem que isso provocasse mais danos no carro, como por exemplo, a famosa ondulação da chapa.

Decidi então que tratraria eu mesmo do chassis em casa e que a carroceria poderia ser decapada a jato de areia e zincada logo de seguida para não enfurrujar novamente.

Depois de avaliar os pontos positivos e negativos, de muito ponderar e equacionar o processo, decidi mesmo enviar a 4Latinhas para uma empresa de decapagem e zincagem – a Arnometil.

Como resultado final, há efetivamente pontos positos e negativos.

O recurso ao jato de areia é de facto uma excelente forma de limpar sujidades como ferrugem, tinta, cola, alcatrão e uma quantidade infindável de materiais desconhecidos que um clássico pode ter após uma vida de estrada e chapeiros (de estrada).

Contudo, o jato de areia deve ser usado com muita precaução sobre os painéis não rígidos, como as portas, o tejadilho, a mala… Pode tornar-se numa dor de cabeça gigante, ou seja, o resultado final pode ser um trabalho de recuperação da chapa bastante mais complicado do que antes da decapagem.

O jato de areia, tal como o nome indica, projeta contra a chapa, a alta pressão um material granulado (que pode ser areia, granalha de aço, óxido de alumínio) que realmente permite alcançar zonas de difícil acesso com uma lixa, por exemplo. Outros dos benefícios são, por exemplo o tempo do processo completo, que é bastante menor, toda a ferrugem e betumes que existirem por baixo da pintura ficam imediatamente à vista e são eliminados.

Como principais desvantagens, temos o grande problema da deformação da chapa nas zonas mais sensíveis e o excesso de decapagem que pode levar à criação de micro (ou mesmo macro :)) fissuras nos paineis.

Uma boa dica que podem dar quando levarem os vossos clássicos à decapagem é relativamente ao ângulo do jacto. Se for aplicado quase paralelamente aos paineis, passado suavemente e por várias vezes, há menos riscos para o saúde do painel. Se o ângulo entre o jato e o painel for mais próximo dos 90 graus e/ou a pressão do jato for elevada, o impacto da areia ou abrasivo será tal que a chapa vai muito provavelmente deformar, o que irá exigir mais horas de trabalho na fase seguinte (mais trabalho para o chapeiro, logo mais custos).

No caso da 4Latinhas, o processo foi relativamente controlado, uma vez que removi as portas, o capot e a mala antes de enviar a carroceria para a decapagem, ou seja, as partes mais sensíveis serão mesmo decapadas com lixa em casa.

Ainda assim, a empresa que me fez a decapagem foi bastante cuidadosa e não arriscou decapar o tejadilho, pois podia mesmo empenar com a pressão do jato. A Arnometil fez um trabalho incrível.

O único ponto negativo que tenho a apontar no caso da 4Latinhas foi a zona das cavas de roda traseiras que, por estarem já bastante desgastadas com o tempo, ao sofrerem a decapagem, acabaram por revelar muitas fissuras (muitos muitos buraquinhos :)), estado que teria sido mais controlado se a decapagem tivesse sido feita manualmente.

Ainda assim, e jogando pelo seguro, terei mais trabalho na fase seguinte para reconstruir com chapa nova estas zonas, mas também terei a certeza de que não existem restos de oxidação escondidos.

Para finalizar todo o processo e bloquear o aparecimento de óxido/ferrugem, a 4Latinhas foi zincada nos minutos seguintes à decapagem.

A zincagem é um processo de cobertura com óxido de zinco que pode ser facilmente comparada com uma pintura de primário. Aliás, os primários utilizados hoje em dia pelos pintores auto, são em grande parte compostos por óxido de zinco. O óxido de zinco tem uma excelente capacidade de resistência à corrosão, pelo que a proteção que confere ao metal (chapa) é bastante duradoura.

Há ainda quem prefira a metalização face à zincagem, no entanto, e na minha opinião, para além de ser um processo bastante mais caro que a zincagem, a metalização confere uma textura muito rugosa à chapa, que irá também requerer um esforço extra na fase de pintura.

De volta a casa, a RT (OK, tem dois nomes :)) tem ainda um longo processo pela frente até ser devolvida à estrada.

E vocês, já decaparam os vossos clássicos?